Todos os adultos estavam perfeitamente alinhados em suas poltronas, mas um barulho vindo da primeira fileira fazia rasgos no sossego da plateia. Lá estava a garotinha mais feliz do dia a cortar o silencio com risinhos ansiosos. Nunca entenderam, nunca entenderiam: rir era um efeito espontâneo de seu nervosismo.
Em alguns minutos, aquele cara sério e elegante entraria no palco segurando a cartola preta nas mãos. Então, após sentar-se no banco de madeira, tiraria o smoking que faria uma espécie de cortina retangular em torno do banco. Repousaria a cartola na cabeça do piano e começaria a tocar. Para ela, esse era o ritual mais bonito do universo.
Saber que isso aconteceria fazia seus pés balançarem freneticamente. Para frente. Para trás. A pipoca que comprou estava quase no fim: logo começaria a comer os próprios dedos.
Ele tinha um estilo peculiar, um quê de fragilidade que não transparecia na força de seus sentimentos. Nos olhos escuros, um brilho secreto. Segredo dele, segredo dela. Havia magia movimentando a engrenagem, algo de sobrenatural no som que entrava pelos ouvidos e se alojava em seu coração.
* Para ela, ele era uma orquestra inteira. Para ele, ela era a regente.
Monique Burigo Marin
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4 comentários on "Dueto"
música é tudo não é?
o texto está lindo, parabéns!
Magnifico!
Um dueto inusitado entre o músico e a jovem expectadora! :) .. Bonito.
Lindo. Beijo
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