Açúcar Invertido

por Monique Burigo Marin às 9:23 PM 6 comentários
Ilustração: Vania Zouravliov

Há, no seu jeito de querer o meu sangue, e querer a minha paz, e querer a minha dor; algo de doce. Há, no silêncio do seu riso um som que perfura meus tímpanos, e perfura minhas veias, e consome minha alegria. Algo que no último instante me faria implorar pela morte, pois a eternidade seria pior.

* Há, nesse ódio recíproco, algo de amor. 




Monique Burigo Marin

Oculto

por Monique Burigo Marin às 7:57 PM 5 comentários
                                                                                               Ilustração: Camilla Derrico


Sentei aqui para escrever, mas minhas mãos já não se movem. Tenho a mente vazia de inspirações. Já não psicografo minhas próprias mensagens ocultas. Já não entendo nada. E nada; é tudo. Vazio. Cru. Interminável.
Há uma linha tênue e invisível prendendo meus punhos à cama. Não consigo levantar. Os olhos não abrem. A paisagem é nuvem cinza de tempestade violenta. Formigueiro de sentimentos consumindo o açúcar do algodão que já não é doce e está sujo demais para limpar feridas. Os remédios estão sempre na cabeceira, não há outra maneira de sobreviver.
É que quando as palavras calam surge em mim uma vontade louca de chorar. Chorar os pensamentos fugidios que sei que estão em algum lugar onde não alcanço. Talvez passem por mim acelerados sem que eu possa capturá-los, pois meus movimentos são lentos, fruto da vida sedentária que venho levando.
Só me saem essas lágrimas secas e invisíveis. O que guardo é mais salgado. Mais profundo. Mais doloroso. O que guardo já não quero guardar, mas não tem jeito. O que guardo sou eu protegida por uma cápsula de gelatina bamba em cima de uma mesa torta.


Monique Burigo Marin
 

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