Oculto

por Monique Burigo Marin às 7:57 PM
                                                                                               Ilustração: Camilla Derrico


Sentei aqui para escrever, mas minhas mãos já não se movem. Tenho a mente vazia de inspirações. Já não psicografo minhas próprias mensagens ocultas. Já não entendo nada. E nada; é tudo. Vazio. Cru. Interminável.
Há uma linha tênue e invisível prendendo meus punhos à cama. Não consigo levantar. Os olhos não abrem. A paisagem é nuvem cinza de tempestade violenta. Formigueiro de sentimentos consumindo o açúcar do algodão que já não é doce e está sujo demais para limpar feridas. Os remédios estão sempre na cabeceira, não há outra maneira de sobreviver.
É que quando as palavras calam surge em mim uma vontade louca de chorar. Chorar os pensamentos fugidios que sei que estão em algum lugar onde não alcanço. Talvez passem por mim acelerados sem que eu possa capturá-los, pois meus movimentos são lentos, fruto da vida sedentária que venho levando.
Só me saem essas lágrimas secas e invisíveis. O que guardo é mais salgado. Mais profundo. Mais doloroso. O que guardo já não quero guardar, mas não tem jeito. O que guardo sou eu protegida por uma cápsula de gelatina bamba em cima de uma mesa torta.


Monique Burigo Marin

5 comentários on "Oculto"

Si Lima on 17 de maio de 2011 às 13:59 disse...

"Formigueiro de sentimentos consumindo o açúcar do algodão que já não é doce e está sujo demais para limpar feridas."

Extremamente profundo!!
Adoro te ler!!
Beijoo'o**

Dan Arsky Lombardi on 17 de maio de 2011 às 18:44 disse...

Não sei se você chegou a ler um texto meu em que eu dizia sobre produzir para si próprio: "E se para mais alguém servir, fica cada vez melhor".
Pois é, esse texto serviu.

Paulo Sousa on 19 de maio de 2011 às 20:59 disse...

Muito bom o texto,ainda mais por ser "profundo" curto muito textos desse estilo!

Me visita?Seguindo seu blog!
http://cocacola-geracao.blogspot.com/

Barbara Nonato on 19 de maio de 2011 às 21:06 disse...

PERFEITO!

Tantas vezes sou também uma cápsula de gelatina bamba, em outras sou esta cápsula afogada em lágrimas... Como se essa sensação de vazio fosse quase universal.

Adorei o texto!!!

Juliane Bastos on 20 de maio de 2011 às 13:46 disse...

"Já não psicografo minhas próprias mensagens ocultas. Já não entendo nada. E nada; é tudo. Vazio. Cru. Interminável." Me vi nessa parte. Lindo Lindo. Adorei tudo por aqui, blog perfeito. Acaba de ganhar mais uma seguidora *-*

beijooos :*

 

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