Tenho inúmeras manias esquisitas, entre elas está a de imaginar rostos jovens (ou nem tanto) envelhecidos. Não sei quando foi que a adquiri, mas desde então não consigo livrar-me dela.
Um dia, me olhando no espelho imaginei-me daqui a trinta anos. Realizada pessoalmente e profissionalmente; inseparável de meus instrumentos musicais, alguns livros publicados, situação financeira estável, família feliz. Rugas marcavam meu rosto, mas eu estava orgulhosa de cada uma delas.
Um vento frio e agradável entrou pela janela da sala, onde eu conversava animada com o homem que eu amaria até o fim da vida. Reciprocamente. E se o tempo me permitisse, provavelmente morreria amando um homem careca – engraçado pensar nele assim.
A lareira estava acesa, a mesa lateral acomodava diversos porta-retratos que continham fotos de momentos felizes, em alguns deles eu estivera no Japão. Meu eu adulto vestia algo confortável e divertido, tinha nas mãos quatro pares de meias recém passadas, prontas para serem imediatamente calçadas em um dia frio de outono.
Ao olhar pela janela vi minha irmã e meus sobrinhos, sorriam e acenavam ao passarem pelo portão. Meus dois filhos correram ao encontro deles, os copiei, e nos envolvemos em um abraço coletivo. Pouco depois, meu melhor amigo apareceu por lá. Seu cabelo estava diferente, mais curto, menos escuro, mas naquele momento eu soube – seu olhar seria o mesmo para sempre.
Ao observar o exterior de minha casa, descobri com alegria que ela era amarela. Havia um carro de modelo antigo na garagem, o jardim estava bem cuidado, e os portões eram fantásticos, cheios de curvas e desenhos. Folhas secas caídas no chão atribuíam à sensação gostosa de pisá-las e ouvir os sons. Ao fazer isso, a fantasia quebrou-se com as folhas. Pela metade, interrompida.
A imagem no espelho voltou a entrar em foco, e lá estava eu – trinta anos antes, nenhuma ruga, com o futuro nas mãos.
É fato, todos os que sobreviverem ficarão velhos. Os jovens envelhecem, os velhos continuam envelhecendo, e até as crianças têm rugas invisíveis no rosto – precoces em quase tudo. O mundo está amarelando, há páginas quase ilegíveis e cabe a nós conservá-lo.
Sei que sentirei falta do que ficará na lembrança. Então, que a vida se renove todo dia. Que o futuro seja pleno como nunca.
Monique.
6 comentários on "Que seja pleno o que será."
Menina, esse sonho é bem bonito, mas não se deixe levar apenas por essas imagens perfeitas. Pela forma que você escreve, sei que tem maturidade. O que quero dizer é que nem sempre tudo acontece dessa forma e nem por isso devemos ficar tristes. Sou careca (rssss) sofri muito no começo, mas agora desencanei!
bjin!
Uau monique! Gostei mto!
Já tive mtos sonhos como esse , me via no futuro dessa maneira , uma bela casa , convivendo em uma harmonia perfeita , trabalhando no q eu gosto , e mesmo com grandes problemas e rugas viveria feliz. Parabéns pelo post! Até a próxima!
obs: Amei a nova cara do blog! ficou mto fofis! *-*
Monique.
Lindo texto, como sempre.
Você toca quais instrumentos?
Porque eu toco, também. E canto. *-*
Beijos :*
Quem dera realmente poder saber do futuro inteirino. Seria uma experiência formidável, porém perderiamos presente vendo-o, o que não seria lá muito agradável.
lindo aqui, migs *-*
eu queria saber futuro, cara, rs.
bjs :*
Incrivelmente bem escrito ;*
Postar um comentário