Fotografia: MBM
Tijolo é uma palavra feia. Estou rodeada delas neste lugar.
Forram as paredes como ataduras. Firmes. Escondem a fragilidade do outro lado.
Ninguém vê.
Eu sou ninguém e me sento nesta cadeira que range a qualquer
mínimo movimento. Tento brincar de estátua, fingir de morto, descansar os
olhos. Aos quarenta anos ainda tento. Eu, que nunca consegui.
Talvez eu deva abandonar os tijolos... Pois há dias sinto o
coração solidificar, tentando a todo custo camuflar-se. Pulo a janela do
segundo andar.
As poças d’água são novos objetos de reflexão, literalmente
falando. O rosto líquido e inexpressivo me encara sem entender. A poça vira
onda e me engole. Inunda os cômodos. Desconstrói tudo que construí.
Monique Burigo Marin
4 comentários on "Mimetismo"
Essas minhas paredes me sufocam e me abrigam do vento...
Gostei muito do texto. Traduz a minha vontade de sair correndo que só surge quando está chovendo demais para sair.
Me lembrou também "Construção" do Chico Buarque, desde o momento de encontrar uma barreira "tijolo por tijolo num desenho lógico" até a hora em que o corpo encontrou a poça d'água e, engolido, "morreu na contramão atrapalhando o sábado".
Perfeito. Não tiraria nem colocaria palavras. Está muito bom. Acho que as pessoas, hoje em dia, vivem muito "entijoladas", ou melhor: cercadas por tijolos. Acho que muitas vezes elas não expõe seus verdadeiros sentimentos, a não ser a seus tijolos. Estou desenvolvendo uma linha de raciocínio um tanto quanto difícil de ser compreendida, mas não acho que seja impossível. Só. Hoje, estou abrindo uma fresta em um de meus tijolos e expondo minhas opiniões.
tijolo é feio e monique é bonito,né?
Pobre tijo's haha
Gostei muito.As vezes eu me sinto assim,acho que todo mundo.
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Postei um texto sobre um carro velho no meu blog e gostaria muito que você o lesse. (É um dos que eu mais gosto.)
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