Eu fui quebrando as portas como se quebrasse medos. Mas no fim das contas, só estava quebrando os ossos. E me diziam para ficar calma, e me diziam para estender o braço, e me pediam para não chorar. Quando eu desse por mim estaria feito.
Todos diziam que eu não sentiria, sem saber que era esse meu medo maior. Só fiquei tranquila quando vi aqueles olhos. Olhos negros, quem diria. Tão bondosos. Usando agulhas para espantar meus medos. Mas não importava o quão fundo entrassem em minha carne, novas portas cresciam mais fortes. Mais altas. Mais intransponíveis. E eu ia percebendo que estava atravessando sozinha por dentro dos meus medos, guiada por uma loira sem sal.
Enquanto eu pensava, ressentida, na ilusão da beleza interior, aqueles olhos iam ficando distantes... Mas ainda vigiavam minha consciência. Tiravam minha roupa, monitoravam meus batimentos, diziam que os pesadelos não poderiam me perturbar. Então, quando as luzes pararam sobre o meu corpo, já não me importava. Eu estava entregue à minha última torta de brigadeiro preto com morangos. Sentindo a glicose correndo pelas veias. Até não sentir mais.
Monique Burigo Marin
7 comentários on "Hipoglicemia"
HAHA, adorei o texto.
Torta de brigadeiros pretos com morango :9
#euri com seu texto...
Parabéns!!!!!
Estava precisando fugir do textos de "amor adolescente".
achei que teria sexo quando vi os morangos
hehe, bastante engraçado! :p
parabéns, http://apaixonadasporcosmeticos.blogspot.com
adorei a quantidade de detalhes
loira sem sal?!
sei sei
uhauahua
eu achei que era melhor chocolate
A gente descobre que viver é melhor que chocolate...
Gosto das suas vírgulas, assim, tão desenhadas.
Meu beijo.
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