De tanto sentir.

por Monique Burigo Marin às 5:11 PM
                                                                                                                 Ilustração: Gure

 Quando eu morrer, desejo estar errada, abrir os olhos fora de mim e receber o abraço aconchegante de uma boa alma. Quero sentir a textura das nuvens sobre os pés, reencontrar pessoas queridas pelas quais meus olhos derramaram pesadas gotas de saudade. Dizer as coisas não ditas que pensei nunca mais poder dizer.
 E até nessa de acreditar em vidas passadas – e principalmente em futuras – eu entrei. Já não consigo explicar de outra maneira essa ligação tão dolorosamente permanente. Quando eu morrer, quero não querer voltar a um mundo sem água e sem amor nem por você.
 Quero morar em uma humilde casa, feita dos tijolos que ergui com minhas bondades terrenas. Não precisar trancar as portas e poder admirar, através da janela aberta, as estrelas que passeiam na rua. Acabar me apaixonando por algum desses seres notívagos ou por todos eles.
 Quero finalmente escutar ao vivo os ídolos que morreram antes de mim, ainda que isso soe irônico. Ainda que a minha nuvem seja a mais turbulenta e distante.
 Quando eu morrer, quero sentir nascer um par de asas furadas. Aprender a voar apesar de tudo. Aprender a cair apesar de tudo.
 Quero ser útil a alguém, fazer enxergar quem não pôde admirar as belezas de um mundo imperfeito.
 Quando eu morrer, não quero lágrimas. Quero só a dorzinha boa de quem, em algum momento, sorriu por mim. Quando eu morrer, digam que sinto muito e de tanto sentir meu coração parou.

Monique Burigo Marin


7 comentários on "De tanto sentir."

any crue on 14 de abril de 2011 às 17:28 disse...

adorei o texto e a foto tb

Barbara Nonato on 14 de abril de 2011 às 18:42 disse...

Eu estou me apaixonando completamente pelos teus textos! Você é sensacional!!!

Que talento fenomenal, menina! Um dom quase supremo...

Unknown on 14 de abril de 2011 às 19:31 disse...

Cara que texto massa!
Principalmente a parte de escutar os ídolos que já se foram, penso desse jeito também.
Mesmo sendo ruim, seria bom :)
Parabéns novamente.

Dan Arsky Lombardi on 15 de abril de 2011 às 12:27 disse...

Eu me esforço inquieto para crer em tais doçuras do além-túmulo, mas meu coração truculento só sabe me dizer não.

Angus Cailleach on 15 de abril de 2011 às 17:10 disse...

Parabéns pelo texto e pelo blog, ótimo layout.

Sabrina disse...

E enquanto isso, o que você sente tanto e escreve faz o coração alheio bater mais rápido!

Muito, mas muito lindo, Monique *-*
Saudade <3

AA on 16 de novembro de 2011 às 12:38 disse...
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