As mãos sujas de tinta apanhavam no ar as imagens mais sinceras. Denunciavam as mentirosas e puniam as criminosas. Era o juiz do próprio mundo, dono das próprias mãos. Autor das mais sombrias histórias.
Tingia de cores intensas os quadros e as paredes. Sua angustia era arte e nem sabia. Não queria saber. Sabia o bastante e, de fato, melhor seria se não soubesse.
Hoje penduro a camisa dele no armário, reparo as manchas que não reparei quando a comprei no brechó. Essas manchas alaranjadas são a paz de um homem morto. Agora eu sei.
Monique Burigo Marin
9 comentários on "Descanse em Paz"
Será que manter estas manchas irá manter a paz que o homem por detrás do pincel nunca encontrou?
As manchas são os juízos dele mesmo
Talvez ele tenha perdido a paz
Li certa vez uma artista-plástica "tinta é sangue colorido. O mais artificial é o branco"
Como sempre, belo texto!
Abraço
blog
Site Comunidade Literária Benfazeja
ter paz na angustia, uma alma bem solitaria.
Ao menos ele conseguia pintar sua própria paz.
Bonito estilo, gostei muito das tuas linhas!
Parabéns pelo talento! ^^
Fico pensando se um dia a minha flanela vai ser comprada num brexó. O problema é que minha flanela não pode se sujar de música. =P
Muito profundo o texto. Cheio de sentimentos.
Algunas dos maiores artistas nem imaginam que alguma vez fizeram arte durante a vida...
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