Fecho os olhos
e vejo o teu reflexo na janela do bar, balançando os cabelos e a guitarra, como
quem se desprende do mundo. Teus olhos profundos se fecham com força, me
abandonam do lado de cá. Eu me isolo dentro de mim para te escutar melhor. Tua
voz se propaga aqui dentro feito o vento que assovia entre os prédios.
Estico os
braços para te tocar, mas você é tão intangível para mim quanto a música é para
o surdo. Sinto a tua vibração nos meus ossos e no meu coração, mas você não me
sente. Eu te atravesso como um fantasma. A música acaba. Nossos olhos se abrem
depressa, como se de repente nossos sonhos se transformassem no mesmo pesadelo.
Eu te olho com
meus olhos de Raio X e enxergo teus órgãos forrados por partituras. A música
toca dentro de ti e, quando permites, ressoa. Amplifica. Tua caixa torácica é o
lar de um milhão de notas musicais que saem pela tua boca em escala e depois
voltam a nascer dentro de ti. Tua anatomia é incomum e atraente. Tua pele
deveria ser translúcida.
Tento ler a
partitura que te reveste e me descubro analfabeta. Teus códigos são difíceis de
decifrar e, por isso, ainda mais interessantes. Tua voz oscila dentro de mim
feito asas de borboleta.
Monique Burigo Marin
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