Expiração

por Monique Burigo Marin às 9:53 AM 2 comentários
Imagem: Monique Burigo Marin

   Melhor eu permanecer isolada neste aquário, como um Beta de hábitos solitários. Como uma mancha de tinta diluída. Melhor você não tentar respirar no meu mundo, ele te sufocaria como um saco plástico. Mantenha distância. Quero teus pulmões cheios de ar, não de água.
   O vidro que nos separa adora criar ilusões, é só por isso que você me vê tão grande. Eu, que caberia no bolso da tua jaqueta. Eu, que temo por este vidro trincado. Eu, para quem o teu toque é uma ameaça. Perto de ti eu sou mais frágil e transparente que ele.

Monique Burigo Marin

Muito prazer

por Monique Burigo Marin às 6:50 PM 2 comentários

Imagem: Monique Burigo Marin
   Você desconhece a minha vontade de ter os pés descalços sobre a grama, viver entre as árvores, fluir como líquido pelas corredeiras. Desconhece meu ódio ao ver os animais condenados no campo e minha vontade de inverter os papéis. Quero aprisionar os responsáveis com arame farpado.
   Você desconhece esse meu lado cigano, esse meu lado bucólico, esse meu lado rebelde. Não crê na minha força por culpa da minha aparência frágil. Você nunca olhou, verdadeiramente, dentro dos meus olhos. Nunca viu a mulher atrás do rosto infantil. Aliás, você sempre esteve olhando para outro lado.
   A flor que caiu ontem daquela árvore, era eu. Eu, que um dia quis viver entre as páginas do seu livro empoeirado.
Monique Burigo Marin

Retalho

por Monique Burigo Marin às 6:49 PM 4 comentários
Imagem: Brian M. Viveros

  Não pense que te esqueci. Eu prometi: não esquecerei, nem poderia. Se me afasto, é porque te quero bem. Não desejo quebrar sequer um fio de cabelo teu. E agora, quando penso nos teus cachos caídos sobre os olhos, sei que não me cabe afastá-los, porque tenho mãos de tesoura.
  Mas, querido, se precisar de retalhos para remendar os estragos, eu providencio imediatamente.

Monique Burigo Marin
 

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