Vermelho Morto

por Monique Burigo Marin às 4:21 PM

 Imagem: Monique Burigo Marin

  Noite passada eu tive o pior pesadelo do ano: Eu não era eu e não ser eu me consumia.
  As pontas dos meus cabelos formavam cachos perfeitamente loiros. Vestia branco e era difícil distinguir tecido e pele. Eu era frágil. Porcelana.
  A casa, onde meu corpo caído estava, era clara. Tons de branco em toda parte. Elegância e delicadeza. Meu corpo no chão em pose de bailarina. Olhos abertos e frios deixavam entrar qualquer um que desejasse. Coloração abstrata.
  De repente, o líquido escarlate me fugiu dos lábios, espalhando seu cheiro fétido pelos cômodos. Impregnando as cortinas, os tapetes, os lençóis. Tingindo a pureza com sua agonia.  Perfurando a alma. Eternamente.
  Minha transformação estava concluída. A natureza humana não era mais que os cacos com os quais tentei golpear a fera – sem perceber que os cacos era eu. Sei que, no fundo, errei propositalmente. Eu também quis provar teu sangue e teus riscos.

Monique Burigo Marin

2 comentários on "Vermelho Morto"

Dan Arsky Lombardi on 26 de novembro de 2011 às 17:32 disse...

Fez bem em desmontar-se em pedaços e meter-lhe os cacos na pele. Carcaça de fera é dormir em paz de novo.

"É muito censurado, mas acontece frequentemente, que com aspectos de devoção e piedade adoçamos o próprio demônio."
V de Vingança

Iguimarães on 1 de dezembro de 2011 às 19:11 disse...

Bela combinação.
Sangue e sorriso

 

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