Descanse em Paz

por Monique Burigo Marin às 6:12 PM 9 comentários
O dono da camisa fora um homem triste, amargurado, incompreendido. Seu único momento de paz era quando pintava.
As mãos sujas de tinta apanhavam no ar as imagens mais sinceras. Denunciavam as mentirosas e puniam as criminosas. Era o juiz do próprio mundo, dono das próprias mãos. Autor das mais sombrias histórias.
Tingia de cores intensas os quadros e as paredes. Sua angustia era arte e nem sabia. Não queria saber. Sabia o bastante e, de fato, melhor seria se não soubesse.
Hoje penduro a camisa dele no armário, reparo as manchas que não reparei quando a comprei no brechó. Essas manchas alaranjadas são a paz de um homem morto. Agora eu sei.


Monique Burigo Marin

Prisioneira

por Monique Burigo Marin às 9:33 PM 9 comentários
Imagem: Brian M Viveros

Sentou naquela escada de madeira que fica em frente ao mar só para torturar-se com a areia entrando nos olhos. Mergulhada em sua própria nuvem de fumaça, pensou em desistir de tudo. Tudo mesmo. Até agora suas insistências só aprofundaram os cortes.
Entorpecida pelas ilusões da vida, caiu inúmeras vezes em teias invisíveis. Apoiou-se em pernas bambas. Tentou, a todo custo, desvencilhar-se das amarras. Enroscou-se ainda mais.
Tragou profundamente as lembranças mais amargas e soprou devagar. Uma por uma.
...Mas é difícil libertar-se daquilo que se é.


Monique Burigo Marin

Secreto

por Monique Burigo Marin às 7:56 PM 9 comentários

Hoje eu não quis ser a mesma de sempre. Não sequei o cabelo depois do banho. Deixei cada gota gotejar o seu instante secreto de felicidade. Senti a água correr pelas costas. Um trajeto agonizante e frio, arrepio. Arrepio.


Monique Burigo Marin

 

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