Um dia, a descoberta

por Monique Burigo Marin às 9:55 PM

É tempo de descobertas. Não sou quem eu achava que fosse, tampouco sou quem achavam que eu era. Sei que eu não tinha esse sorriso parado, e morto, e frágil. Que desmancha só de olhar. E não eram minhas essas olheiras tão fundas nem esses olhos tão rasos.
Eu escrevia para compartilhar alegria, não para encontrá-la.
O equilíbrio que eu tinha cansou-se, escolheu um dos lados do muro, depois descobriu que era o lado errado. Não pôde voltar. Tudo em mim é caos e está por um triz. Tudo em mim é esperança que morre todo dia. Acho que tive pressa e acabei vestindo a alma do avesso.
Entendo que tudo se transforma e se recicla, só não sei como receber o novo, só não sei ainda como aceitá-lo, não sei e não quero, e não querer me faz temer que o dia chegue. Temo que chegue o dia. Temo que ele nasça sorrateiro com um sol camuflado de lua por trás das nuvens pesadas de um céu azul petróleo. Temo que um dia seja o dia em que minhas mãos não serão necessárias para tapar os teus bocejos, nem para afagar os teus cabelos, nem para acenar pro teu passado. Temo que morra sem ser notado, como se fosse um dia qualquer.


Monique Burigo Marin

8 comentários on "Um dia, a descoberta"

wiliam jk on 14 de abril de 2010 às 23:57 disse...

Ele saberá tapar seus próprios bocejos. E viverá com os cabelos bagunçados por conta própria. Isso alguns chamam de liberdade.

Mas longe disso, é tortura. E ultimamente o tempo tem passado rápido. Espero que esse dia venha e se vá. Pra depois então o sol iluminar todos os dias. Pra queimar de alegria ou suspirar de prazer.
Pra escrever o quanto és você.

Ligia on 17 de abril de 2010 às 09:39 disse...

è incrivel, os grandes cantores, compositores, só foram realmente grandes porque conseguiram transpor em versos os sentimentos de toda uma geração! E você menina, mais do que lindas palvras consegue transpor sentimentos, que muitas pessoas conseguem se identificar! As suas linhas são mais do que bem escritas passam sentimentos, itensidade!

Robb Fernandez on 17 de abril de 2010 às 11:24 disse...

Muito Linda Ilustração!!!!!!!!!!

Mario Gioto on 18 de abril de 2010 às 18:16 disse...

A introspecção é algo digno de se fazer! Parabéns pelas reflexões...
que seja bom sempre ^^

Fernando Castro on 20 de abril de 2010 às 11:48 disse...

Não tem lado errado. A hora é que não foi certa. Talvez você consiga quebrar o muro, ou pelo menos abrir nele uma porta - ou uma janelinha que seja.
Suas mãos serão ainda muito necessárias para enxugar lágrimas de olhos piores que os seus e para enquadrar sorrisos como os que você ainda há de sorrir. Sua alma, em qualquer dimensão, ainda fará olhares e sorrisos se confundirem com o sol desmascarado que surgirá à frente de um céu azul - sem petróleo (vale lembrar que ele está acabando).
Muito mais, Monique. Você ainda será muito mais, muito além do que já é. Embora vales sejam-lhe impostos, é certo que a sua colina será a mais alta e verdejante das que estão sendo concorridas (e nem sabem). Tudo - o que quer que seja - sempre passa e deixa-nos algo de muito valioso. Talvez você saiba disso até melhor que eu... Seus sentimentos transbordam nas linhas que escreve, e eu sempre venho tomar um pouco pra mim... hehe
até... ^^

Fernando Castro on 23 de maio de 2010 às 12:04 disse...

Selinho no meu blog pra ti!
beijão.
até...^^

Anônimo disse...

'E no final
Assim calado, eu sei
Que vou ser coroado
Rei de mim'

Adorei seu blog.

Até.

Unknown on 24 de maio de 2010 às 20:01 disse...

Ah, moça... Mas o caos e o quase encerram a potência de nos tornar, de fato, aquilo que somos. Ser caleidoscópicos e estar em movimento são as condições mesmas de existir com alguma lucidez, nem que seja aquela intangível do corpo. Sim, o que mata é a anemia da vida besta, com sua apatia disfarçada de felicidade que nos entorpece e nos reduz à condição de sobreviventes. Seu texto é lindo. Honestidade com aquilo que se sente é uma libertação.

 

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