Que seja assim - Parte II

por Monique às 12:52 PM
Ficaram parados ali, olhando um para o outro, em silêncio. Ela gosta de observar o silêncio porque ele não reclama. Deixa-se admirar.
Cada detalhe que enxergava parecia lhe preencher os vazios que acumulara ao longo dos dias. Tudo novo e sublime, até as cores se reinventavam.
De repente ele parou de sorrir e ficou muito sério. Observava os traços do rosto dela com tanta atenção que a fez sentir-se como a modelo que posa para o artista. Permaneceu favorável — não se movia —, assim ficava mais fácil capturar sua essência. Assim ficava mais fácil capturar a essência dele.
- Lembro de você — disse ele e a voz soou macia, doce, como tudo —, sei que gostas de cortinas fechadas e janelas abertas. Tento ler o que escreves no vidro da janela nos dias frios. — E o sorriso tornou a aparecer.
- São só bobagens, coisas que faço para passar o tempo e organizar os pensamentos. — Quis dizer que também lembrava dele, que adorava quando reproduzia os sons do mundo com sua gaita de boca, não disse. — Mas, então, do que ria quando o encontrei?
- Ria de mim e para mim. Veja você mesma. — Puxou a garota para mais perto fazendo-a ficar de frente para o espelho. Então, lá estava ela, no lado virtual. O nariz no lugar dos olhos, os olhos no lugar do nariz, as mãos invertidas, os pés também. E o pior: estava careca.
- Não olhe para mim — disse ela entre risadas —, estou horrível.
- Está mesmo! — Caçoou ele misturando o próprio riso ao riso dela, sabendo em seu intimo que de horrível ela não tinha absolutamente nada. — Vem comigo?
- Para aonde?
- Para o outro lado. — Respondeu apontando para a extremidade esquerda.
- Por quê?
- Quero lhe mostrar uma coisa. — Ela pareceu confusa, mas ele insistiu. — Você vem?
- Sim... vou.
Ela o acompanhou, o fundo da loja forrado de espelhos bizarros até a outra extremidade, o garoto decidido a lhe puxar pela mão, ela decidida a não soltá-la. Até que chegaram
- Olhe nesse espelho — pediu, e ela olhou. Lá estava ela outra vez, no lado virtual. Mas, não era como antes, agora estava sorrindo, os cabelos ruivos trançavam-se sozinhos em pequenas mechas, quando pararam haviam formado quatro, duas em cada lado. Os sapatos barulhentos foram substituídos por um tênis amarelo-bebê. O vestido encurtava um palmo e perdia as mangas, mas não a estampa. O cenário no lado virtual era real. É verdade, nesse lugar tudo se confunde.
O garoto da casa amarela aproximou-se e apareceu no espelho, os cabelos foram soprados com força por um vento abstrato, desorganizaram-se emprestando a ele um ar de rebeldia, os cadarços do tênis dele amarraram-se aos dela, o moletom azul escuro tingiu-se de amarelo-girassol. Inesperadamente, palavras escreveram-se no espelho: que seja doce, diziam elas.

Monique.

* trecho de um talvez-futuro-livro. :))

13 comentários on "Que seja assim - Parte II"

Fabíola disse...

Oi. Olha, garota, você escreve bem. Gostp da maneira como escreve e narra seu texto. Agora, só não entendi qual é a essêcia desse texto e olha que o li duas vezes.

Lookk on 30 de agosto de 2009 às 15:55 disse...

Parecido com a linguagem de crepúsculo??? Eu achei..qnd comecei a ler pensei que fosse um trecho, mas aí ví que não... GOSTEI!
BJOKS

wiliam jk on 30 de agosto de 2009 às 18:29 disse...

uaehueah pois espero então por tal talvez-futuro-livro ;)

LP LOPES on 30 de agosto de 2009 às 22:20 disse...

Legal ! Adorei massa

Ana Beatriz on 31 de agosto de 2009 às 10:55 disse...

bem escrito, com certeza²

Fernando Castro on 1 de setembro de 2009 às 18:50 disse...

Obrigado por ir lá me alegrar mais uma vez. ^^

Mais do que agradecer, vim aqui ler, me distrair um pouco.
Se isso de fato se tornar um livro, eu vou ser o primeiro da fila pra comprar! =]
até...

CAMILA de Araujo on 1 de setembro de 2009 às 23:21 disse...

É uma hipótese tbm! xD

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

Unknown on 3 de setembro de 2009 às 12:41 disse...

Não só talvez mas você deve sim escrever este livro, pois tem muito talento para coisa, continue com seus manuscritos e futuramente lance-o

Tays Esquivel on 5 de setembro de 2009 às 09:27 disse...

Muito bom, Monique.
Continue o livro, vou esperar ansiosamente pra ler.

Fernanda on 11 de setembro de 2009 às 01:08 disse...

na boa? sou fã declarada. (:

well souza on 12 de setembro de 2009 às 00:21 disse...

Poxa, a recomendação do blog foi boa. A leitura foi ótima. Escreve a quanto tempo. dez anos?
rsrs

Bjaõ e parabéns!

PS. Vai fundo no projeto de livro. Recomendações: Gabriel Garcia Márquez.

Marina Menezes on 12 de setembro de 2009 às 13:41 disse...

Texto lindo de morrer. Adorei as descrições, o seu modo de contar a história. Sem querer parecer repetitiva, mas teus textos realmente me transmitem doçura, delicadeza.
Se você fizer um livro, manda pra mim? Adoro muito o modo como você escreve ♥
Beijos de uma fã que anda sem tempo para o computador :*

Demétrios on 19 de setembro de 2009 às 11:09 disse...

Interessante... Um tanto original essa coisa doce, me deu a sensação de ter comido uns dez marshmallow ao mesmo tempo só por causa da descrição.
Um talvez livro? Se for sua vontade mesmo, transforme num com certeza livro, ao menos, original a idéia parece ser, e sua forma de escrita não é ruim, pelo contrario. Abraços.

 

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