Chuva de Palavras

por Monique às 12:47 PM 16 comentários

Foi engraçado mesmo, estarmos ali nos olhando sem nada dizer, a metros de distância, nos tocando com o pensamento. Estava frio, o céu tinha cor de cimento, mas não queria chover, não para nós.
É um pouco estranho, e é tão normal ser quem se é. Você viu o que quis de mim, eu vi o que quis de você, e então descobrimos tudo o que não queríamos e nos despedaçamos em uma brincadeira de bem-me-quer-mal-me-quer.
Haviam correntes nos mantendo afastados, mas finalmente fomos mais fortes do que elas. E corremos em direções opostas até os corpos se recomporem em um abraço apertado. Eu não conseguia respirar, e eu não poderia ter me importado menos.
As nuvens se moveram no céu, eu senti as gotas, uma chuva de palavras falava por nós o que não poderíamos dizer. Nossos rostos adquiriam expressão. Você sorriu, eu ri, a felicidade era óbvia. Mas não sabíamos até quando.
Enfim, a paisagem ao nosso redor materializou-se, pudemos ver os sapatos molhados e as janelas se fechando. Ouvimos o plic-ploc da chuva, os passos apressados e o som dos nossos corações batendo como um só. Era a melhor música que já ouvi. Até as folhas dançavam...
Um arco-íris fugiu dos seus olhos e apareceu no céu, o transformamos em escorregador e escorregamos até a profundeza de nossos sonhos. Nunca mais fomos vistos na superfície.


Monique.

7

por Monique às 4:53 PM 10 comentários

Sete é o número natural que segue o seis e antecede o oito, está presente em nosso cotidiano de diferentes maneiras. Para os músicos, sete notas musicais da Escala Base. Para os crentes, sete dias foram usados na criação do mundo. Para as crianças, sete anões da Branca de Neve. Para os matemáticos, sete algarismos romanos. Para os historiadores, sete rainhas na história foram chamadas de Cleópatra. Para os rotineiros, sete dias da semana. Para os apaixonados, sete cores do arco-íris. Para os curiosos, o sete inicia o código de barra nacional brasileiro. Para os pecadores, sete pecados capitais. É sobre eles que falarei. Afinal, todos - músicos, crentes, crianças, matemáticos, historiadores, rotineiros, apaixonados, curiosos ou não - temos isso em comum. Somos pecadores.
Os sete pecados capitais foram inseridos na sociedade pela igreja católica que pretendia intimidar a manifestação dos desejos. Estes, porém, após trancafiados nos corpos humanos agravaram suas proporções.
O tempo passou e os sete pecados libertaram-se dos corpos. Exemplo disso, foi o lançamento da linha de sorvetes Magnum 7 pecados no ano de 2003 – que circulou por tempo limitado – vinha acompanhada de campanhas publicitárias, instruções para consumo, jogos e outras formas de estimular a venda explícita do sorvete. Até eu comi, e gostei.
Apresento-lhes a gula. Ela é desequilibrada, quer mais do que pode ter, dá água na boca e faz a barriga crescer. Combate a ansiedade e coopera com a celulite.
A avareza, não divide suas riquezas e por isso está sempre pobre de espírito.
A inveja despreza seu reflexo, e usa máscaras com o rosto de outro alguém.
A ira é descontrolada, furiosa, intolerante, suicida e homicida, quando acompanhada do til é também um país asiático do Oriente Médio.
A soberba é arrogante, considera-se auto-suficiente, e acha que o mundo gira em torno do próprio umbigo.
A luxúria enxerga por toda parte corpos de Juliana Paes e lábios de Angelina Jolie, quando batem nela escuta-se o som oco.
A preguiça não apareceu para se apresentar, estava confortável demais em sua cama para fazê-lo.
Todas juntas formam um grupo traiçoeiro e (in)evitável. Hoje, a preguiça e a gula foram mais fortes do que eu. Qual delas derrotou você hoje?

Monique.


Comercial Magnum 7 pecados:
http://www.youtube.com/watch?v=xw6XgS__IH0

E a natureza, muda?

por Monique às 12:35 PM 10 comentários

Eu estive pensando em falar com você, mesmo que fosse sobre o tempo. Aliás, você nem imagina a instabilidade do tempo aqui, bem aqui, dentro e fora de mim.
Eu deveria ter construído um mundo mais frágil, sem amortecedores para abalos sísmicos, abrigos contra furacão, e alarmes que anunciassem o perigo se aproximando. Eu lembrei dos guardas, dos portões, dos muros, e até dos cadeados e cercas elétricas. Mas, eu esqueci de me proteger contra a solidão, eu esqueci de abrir os portões de vez em quando, de dar férias aos guardas, de pular o muro. Eu esqueci de estabelecer contato com o mundo exterior, e esqueci de convidá-los a conhecer o meu. Quero esquecer do que esqueci.
Já não suporto suportar essa proximidade que nos distância. E eu não vou me adaptar a estar distante, por mais que eu estude a natureza de um camaleão ela nunca será a minha. E a minha natureza está cheia de flores secas e ervas daninhas, grama morta e barro ressecado, nada de cores exuberantes, nada de chuvas refrescantes; nunca mais.
Só há a vida latente e por natureza temporária. Essa condição temporária para tudo é o que me enfraquece, sufoca, entristece. O tempo é curto demais, e minhas pretensões são colossais. Estou à deriva no oceano, em um barco furado, prestes a naufragar.
E o mais ridículo de tudo, é que hoje - rodando, girando, rodopiando, contornando... Acompanhando a rotação do meu mundo – eu só queria um sorriso, um só. Eu só queria um abraço, só um. Mas eu estava sozinha atrás dos meus escudos.

Monique.
 

Template e imagens do layout por Wiliam Jose Koester.