Como um inseto, você sobe pelos
meus dedos. Leve. Lento. Objetivo. Rasteja sobre o meu corpo frio e desnudo a
procura de um calor que não te pertence. Persegue meus lábios sem perceber que
continuo imóvel, entorpecida. Provoca arrepios, mas não me entrego. Sou
resistente como o seu desejo.
Penso em te esmagar, em te soprar
pra longe, em gritar por socorro. Mas aí você me morde e todos os pensamentos
se perdem e se partem... A resistência também. Farelos de lembranças caem sobre
a barriga – lar de borboletas imortais – e eu me pergunto quando foi a última
vez em que senti meu corpo tremer assim.
Você atravessa minha pele e envenena
minha corrente sanguínea. Quebra meus ossos e confunde meu cérebro. Você me
invade de um jeito maligno e ainda me arranca um sorriso dos lábios. Sorriso
sádico.
Os sentidos se misturam na
sinestesia dos seus olhos. Minhas mãos desistem de te alcançar, já não te querem
longe. Seu olfato fareja o sabor do medo se distanciando. Seu tato tateia meus
poros e eles se fecham pra que você não se vá. Mas você se foi.
Monique Burigo Marin
3 comentários on "Noctívago"
Fez meus olhos correrem cada vez mais rápidos e ansiosos lendo seu texto. Parabéns!
Eu já tinha lido esse texto e, apesar de tê-lo achado lindo, não tive o que comentar.
Agora eu tenho: LINDO!
E acabei de me dar conta que sempre relaciono os seus textos com os meus...
Ler-te continua a enriquecer meus sentimentos, Monique.
Um abraço.
Eu gosto dessa invasão maligna que te domina. Gosto porque sei que ela que faz suas palavras pularem para o papel.
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