Estou te escrevendo pra contar que tenho algo que você
deseja. É sério, não ouse duvidar – nem pular para o final desta carta.
Sabe, já tem um tempo que voltei a chamar o quadro vivo, aberto na
minha parede, de janela. É que tem um tempo que a vida se foi. Tem um tempo que
você se foi... Mas, o fato é que a janela estava escondida atrás da cortina há
tanto, que eu já tinha me esquecido do vaso que você deixou nela. Das tuas
flores, só me restou a lembrança olfativa.
Acordei um dia com o sol entrando pelas frestas. Há muito
tempo não havia frestas. Há muito tempo não havia sol. Então, notei uma saliência na cortina e, quando ela começou a
se movimentar, tive certeza de que era um bicho. Não era. Tem um tempo que as
minhas certezas são incertas.
Pare de bocejar! Eu sei que você está crente de que eu não
mudei nada e que ainda sou a mesma pessoa que levava uma eternidade só pra
dizer que – é, eu ainda sou, só que. Tenha paciência, vou direto ao ponto do
jeito mais pontual que eu puder.
Eu, que até hoje não encontrei meu nome, não sei mais como
te chamar. Seu nome parece não fazer mais sentido. Suas pernas cresceram
saudáveis, no vaso que por pouco eu não defenestrei. Desde quando eu descobri,
estou cuidando delas como nunca cuidei de nada na vida. Nem de mim.
Vem buscar e não se esquece de trazer o meu nome. Eu sei que
ele está contigo, sempre esteve.
P.S: Ainda tem muito chão pra correr.
Monique Burigo Marin
4 comentários on "Ele x Ela"
Suas palavras sempre florescem para enfeitar minha janela, Monique.
Recebe o sol, abre suas pétalas e exala sua poesia inebriante. O mundo não merece menos do que esse êxtase.
Adoro suas palavras, Monique! Ainda acho que suas palavras têm gosto de açúcar, sempre.
Prosa poética de alto nível.
Ótima! Não acrescentaria nem tiraria nada, Monique!
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