Imagem: Monique Burigo Marin |
Esta cidade é vazia sem vocês. Até minha casa ficou mais
triste. Não há mais disputas para limpar a mesa, nem pelo último pedaço de
pizza. Os lixeiros automáticos não me obedecem mais – por outro lado, o
elevador ficou obediente. O sofá da sala ficou um tempo na sacada e depois se
foi também.
Sem vocês, esse mundo é mais imundo. Aqui, as borboletas não
saem do casulo, assim como eu. Nos estacionamentos, só restou fumaça. As
árvores e o mar se escondem no concreto. Aqui, não há mais piqueniques. A vizinhança
está cada vez mais vazia – até a poesia abandonou as casas abandonas. Sinto falta da música, da
música e do seu sorriso de ponto e vírgula, do seu sorriso e do meu sorriso que
sorria para os seus. Sinto saudades do contraste que éramos juntos. Da nossa
unidade.
Tem noites em que fico pensando na gente e a saudade derrama
lágrimas pelo travesseiro, lágrimas que ainda estão molhadas pela manhã. A
distância faz o tempo parecer mais longo. Faz o elo parecer mais frágil. Faz a
lembrança parecer mais distante também, como se tudo tivesse acontecido numa
outra vida.
Eu estou ficando cada vez mais velha, e faz tempo que não
dou uma de mãe, que não ligo assim que nos despedimos, só para me certificar de
que tudo está bem – mesmo que não. Essa despedida parece não ter fim. Os
telefones estão fora de área.
Monique Burigo Marin