(Des)encontros

por Monique às 4:13 PM
Andar arrastado, olhos cansados, cabelos descoloridos pelo tempo; foi a primeira imagem que tive do velho homem entrando no metrô onde eu estava. Levantei do meu lugar para que ele sentasse e ofereci-lhe um sorriso tímido e sem graça ao qual ele não correspondeu, apenas sentou-se como quem deposita no banco o peso de mil mundos.
Antes que o metrô partisse, apoiei as mãos no metal frio suspenso no teto, segurei com força para sobreviver à inércia. Tenho vivido para sobreviver. Congelei em meu lugar, tudo o que está parado tende a permanecer assim. No entanto, descongelei com o passar do tempo e de estações. Descongelei porque ficar na mesma posição por muito tempo dói e cansa.
Fechei os olhos e concentrei-me nos sons. Alguém abria o zíper da bolsa, alguém bocejava baixinho, alguém tamborilava com os dedos na superfície lisa de um caderno, e alguém escutava música com fones de ouvido. O som do metrô deslizando ruidosamente pelos trilhos abriu meus olhos, que olharam por debaixo da porta e viram as luzes, surgiam e sumiam. Tudo isso em segundos. Que tipo de pessoa fecha os olhos para acordar?
Com os olhos abertos encontrei primeiro a dona da bolsa, procurava desesperadamente lá dentro por algo que fugia dela. Depois, o garoto entediado que tamborilava os dedos e não iria parar tão cedo. Vi a dona do bocejo apoiar delicadamente a cabeça no ombro do desconhecido que estava ao seu lado. O desconhecido, por sua vez, não pareceu incomodar-se, pelo contrário. Por ultimo e não menos importante, vi o garoto com os fones de ouvido. Pena que a música não estivesse alta o bastante para que eu pudesse, quem sabe, reconhecê-la.
Última estação, hora da despedida. Despedida estranha em que os personagens saíram apressados sem direcionar-me um único breve olhar. Despedida que a gente dá àquilo que só encontra uma vez na vida.

- Ah, se toda despedida fosse simples assim...

Monique.

9 comentários on "(Des)encontros"

Anônimo disse...

Querida amiga avassaladora... interessante seu post... me lembrei de uma brincadeira que fazia com uma amiga quando iamos de onibus para a escola... seculos atras!
Nós escolhiamos uma ou mais pessoas no onibus e ai inventavamos uma historia um enredo enerme mesmo... ficava tão real! parecia que adivinhavamos o que se passava por tras daquele rosto...
Gostei...

Bruno Silva on 25 de outubro de 2009 às 20:20 disse...

Gostei muito. Esse o blog da jujuba? mudou?

Wiliam Jose Koester on 25 de outubro de 2009 às 20:42 disse...

Conhecendo você do jeito que conheço e conhecendo seus textos do jeito que conheço, digo que este foi o texto que mais prendeu minha atenção. Perfeito.

Fernando Castro on 25 de outubro de 2009 às 22:10 disse...

Perfeito!
É quando escrevem sobre os temas mais banais das formas mais geniais que descobrimos os verdadeiros escritores. Grupo esse do qual você faz parte, sem sombra de dúvidas. Sou seu fã, declarado!
Obrigado pelo comentário do blog. É bom saber que os textos estão melhorando. "Tenho vivido para sobreviver" e feito ambos para escrever, espero que a faculdade me proporcione alguma maturidade literária.

Excusado dizer que volto sempre.
até... ^^

Bruna B on 29 de outubro de 2009 às 20:35 disse...

O mundo gira em nossa volta e quantas vezes não percebemos? É preciso muita paciência e concentração para poder perceber cada detalhe, cada suspiro... E paciência não é o meu forte, sabemos disso.
Aaah, Mô, eu vejo tanto futuro que fico com aquela certeza de que um dia ainda terei um livro seu, com direito a autófrago especial.

TRΛИSĞRЄSSIVΛS on 4 de novembro de 2009 às 17:54 disse...

TUDO.
ADORO BRINCAR COM A VIDA TBÉM!
ELA BRINCA COM A GENTE SEMPRE, NÉ?

VC AGORA É UMA TRANSGRESSIVA!

http://transgressivas.blogspot.com/

invitro on 5 de novembro de 2009 às 17:28 disse...

Gosto de crônicas, ainda mais se bem escritas!
Mostra muita maturidade nas suas palavras, embora sua foto diga o contrário... No fim isso não importa, você é aquilo que você escreve (se escreve com a alma e não com um lápis, é claro...).

ps.: um metrô pra retratar a simples passagem do tempo pela vida, ou a vida passada no tempo, é muito bem posto, visto que estação pós estação existem novos passageiros ou muitos outros desenbarcam...

Ótimo, ótimo...

Fernando Dalacqua on 9 de novembro de 2009 às 18:41 disse...

muito legal.
já tive esse tipo de sensação.

Leo Sousa on 19 de novembro de 2009 às 18:39 disse...

ótimo paralelo!

lembrei de um texto de um amigo que ele colocou no fotolog e dizia mais ou menos o seguinte: (tinha a foto da lua em cima). Esta é a lua, quanto mais distante menor ela fica. Sim, esta é a definição, pena que não se aplica aos sentimentos.

:**

 

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