Antes que o metrô partisse, apoiei as mãos no metal frio suspenso no teto, segurei com força para sobreviver à inércia. Tenho vivido para sobreviver. Congelei em meu lugar, tudo o que está parado tende a permanecer assim. No entanto, descongelei com o passar do tempo e de estações. Descongelei porque ficar na mesma posição por muito tempo dói e cansa.
Fechei os olhos e concentrei-me nos sons. Alguém abria o zíper da bolsa, alguém bocejava baixinho, alguém tamborilava com os dedos na superfície lisa de um caderno, e alguém escutava música com fones de ouvido. O som do metrô deslizando ruidosamente pelos trilhos abriu meus olhos, que olharam por debaixo da porta e viram as luzes, surgiam e sumiam. Tudo isso em segundos. Que tipo de pessoa fecha os olhos para acordar?
Com os olhos abertos encontrei primeiro a dona da bolsa, procurava desesperadamente lá dentro por algo que fugia dela. Depois, o garoto entediado que tamborilava os dedos e não iria parar tão cedo. Vi a dona do bocejo apoiar delicadamente a cabeça no ombro do desconhecido que estava ao seu lado. O desconhecido, por sua vez, não pareceu incomodar-se, pelo contrário. Por ultimo e não menos importante, vi o garoto com os fones de ouvido. Pena que a música não estivesse alta o bastante para que eu pudesse, quem sabe, reconhecê-la.
Última estação, hora da despedida. Despedida estranha em que os personagens saíram apressados sem direcionar-me um único breve olhar. Despedida que a gente dá àquilo que só encontra uma vez na vida.