Foi logo após fechar os olhos que o garoto-estátua apareceu, sentado no meio dos escombros – perplexo. Um milésimo de distração, e ele desapareceu. No lugar dos escombros ergueu-se um lar risonho e solitário, com uma chaminé de tijolinhos que mais pareciam peças de um quebra-cabeça. No quintal: os duendes brincavam sem serem vistos.
Havia uma porta falsa na entrada da casa, estava ali só para disfarçar a anormalidade, qualquer um que tentasse abrí-la toparia com uma parede descascada do outro lado. Os moradores da casa entravam e saíam pelos fundos, como ladrões, como empregados, como filhos fujões. Eles gostavam do desgostoso e de frases no interrogativo.
Lá dentro, uma mulher ruiva de dedos longos e cabelos quebradiços dividia a cama com seus dois filhos adotivos, intercalando cabeça com pés. Cobertores? Eles tinham de sobra – adoravam sentir os dedos enregelados aquecerem-se embaixo deles.
Vez ou outra quando o céu estava cinzento, a mulher contava histórias para os filhos, eles flutuavam dez palmos acima do chão. No final, caiam com um baque surdo.
Quando chovia, saiam de casa para lavar a alma, pular em poças de água e correr de braços abertos. Lavavam, pulavam e corriam... até não aguentarem mais.
Em dias de sol, colocavam meias e pisavam na terra, faziam acampamentos no quintal com caixas de papelão, e só saiam lá de dentro na hora do crepúsculo para admirarem a mistura dos dias no céu.
Amavam uns aos outros como tudo o que tinham na vida – e realmente tinham apenas uns aos outros, mas isso bastava. Até o momento.
Em um dia de sol, o filho mais velho antecipou-se com sua caixa de papelão até o quintal. Foi então, que algo imprevisto aconteceu: um barulho ensurdecedor vindo de todas as direções atingiu o lar, destruiu a magia, e libertou a dor. A destruição chegou para uma visita, e quando foi embora deixou tudo em pedaços. O último suspiro para os que morriam, o desespero para o sobrevivente.
O garoto levantou cada peça do quebra-cabeça desfeito em busca de tudo o que tinha. Só encontrou fios alaranjados do cabelo da mãe, e a as meias sujas do irmão.
Sentado em cima dos escombros, ele era uma estátua, me olhando, suplicando o fim das interrogações que ele adorara um dia. Mas eu... não tinha as respostas.
Eu era uma intrusa sendo carregada pelo vento, igualzinho a Dorothy de O Mágico de Oz - percorrendo terras desconhecidas, sustentando olhares desconhecidos... amando o desconhecido. Procurando uma estrada de tijolos amarelos que trará a solução para tudo.