A precipitação dos sonhos.

por Monique às 10:18 PM 5 comentários

Era horário de verão, por isso o sol parecera atrasar seus próprios sonhos. Os relógios marcavam dezenove horas. Isabel ainda estava sentada na areia da praia, ninguém conseguia tirá-la de lá.
Ela ainda era uma garotinha que antecipava os sonhos atrasados do sol. E só queria ficar ali sentada contemplado o infinito, construindo seus castelos de muros altos e rios infestados de jacarés – para os outros eram apenas montes de areia, e conchas - e ela sabia que amanhã já teriam sido derrubados e destruídos por causas naturais ou nem tão naturais assim, mas ela reconstruiria tudo alegremente porque era sua fortaleza.
Queria um guarda-sol imenso para ofuscar a claridade e poupar o tempo que gastava com protetor solar, queria também um moletom dez vezes maior que o seu tamanho para aquecer-se e sentir-se segura, mas queria, mais do que tudo, que a deixassem ser quem era.
Gostaria que não a impedissem de apanhar areia e comer, que a deixassem correr em círculos até o mar, que não a chamassem de assassina por naufragar barquinhos de papel juntamente com sua tripulação invisível, que o vendedor de picolés compreendesse seu desgosto por escolhas e a deixasse sortear algum sabor de olhos fechados.
Queria que não a condenassem por usar tênis na praia de vez em quando e não a olhassem estranho quando decidisse esconder-se em algum buraco cavado na areia, que acreditassem quando ela dissesse que nuvens podem ter a forma que desejamos e que há muitas escadas pendendo do céu.
Mas, ninguém ali poderia compreender ou acreditar, pois viviam dizendo que estavam velhos demais para isso, tudo era do jeito que era e não podia ser transformado. Já para ela, tudo era fascinante, surpreendente, saboroso; e não importava o quão amargo fosse, nem de que forma as almas antigas viam o que ela enxergava.
Achavam engraçado o jeito como ela balançava sobre os calcanhares e o modo como soprava a franja para longe dos olhos. Ficavam todos impressionados com o prodígio talento para discursos quando ela abria a boca, mas e daí? Ela só desejava que seus castelos de areia fossem mais significativos e importantes do que suas mãos sujas.

Monique.

Kriptonita

por Monique às 8:34 PM 6 comentários

Incansavelmente estive tentando, mas as coisas pareciam proceder como em um pesadelo. Eu estava caindo em queda livre, o chão estava próximo, queria gritar, mas minha boca tornara-se incapaz de produzir sons. E era sempre tudo igual...
Então um dia, a projeção foi desligada, as luzes foram acesas e o despertador tocou. O encanto foi quebrado, e eu cansei de ser muda.
Ao te encontrar com os olhos finalmente abertos, a dor foi insuportável, você era para mim como a kriptonita era para o super-homem: nocivo, letal, e verde.
A distância fora estabelecida, os laços haviam sido desfeitos há muito tempo.
Eu sempre voltei a rir e achar a vida bela, a dançar na chuva, e correr com a boca aberta. É claro que ainda tentava engolir o mundo, e sem medo de engasgar e perder a voz outra vez. É óbvio que ainda haviam kriptonitas de tocaia esperando por mim, mas agora, eu estava preparada para enfrentá-las. É justo que eu não seja imortal, e decida morrer algum dia.


Monique.
 

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