Janelas do Mundo

por Monique às 1:11 AM


O relógio marcava 16h – o momento do dia que mais me agrada. Abri as janelas do quarto, sentei-me na cama, apanhei a caneta e o papel que se encontravam ao alcance das mãos. As idéias borbulhavam em minha cabeça, como lava de vulcão inativo durante anos prestes a entrar em erupção: eu queria escrever. Fiz um risco no papel, havia um bloqueio deveras grande em minha mente que impedia qualquer idéia de manifestar-se: eu não entendia.
Havia o vento, a luz solar, o toque macio do cobertor em minhas pernas. Havia também os meus pôsteres favoritos colados na parede, meu violão apoiado na cama, os livros sobre a cômoda, meu som favorito tocando ao fundo, mas faltava alguma coisa – pausa para outro risco no papel . Eu não entendia.
Soltei o que tinha em mãos e caminhei em direção à janela, coloquei a cabeça para fora e observei cada detalhe até onde meus olhos fossem capazes de alcançar. Mas aquilo era pouco, muito pouco para a curiosidade infindável de meus olhos vagos. Eu queria ver mais. Queria descobrir o que se escondia atrás da montanha tão verde, das nuvens tão brancas, do asfalto tão negro, dos olhares tão cinzas e sorrisos tão amarelados. Poderiam sorrisos enferrujar feito prego que pregou o dedo de alguém e deu-lhe de brinde o tétano? Acho que não, talvez tenham apenas envelhecido feito papel antigo.
Desviei o olhar da multidão que caminhava apressada, temia por eles que pudessem tropeçar nos próprios pés. Meu olhar penetrou a montanha verde e aos poucos foi notando que não era tão verde assim. Havia um pouco de marrom, provavelmente barro de área desmatada pelos mesmos sorrisos enferrujados e envelhecidos, olhares mortos e passos tortos. A humanidade era mesmo repulsiva.
Notei no topo da montanha um pouco de rosa, inibido por tanto verde, eram flores inusitadas, embora longínquas e, portanto pouco vistosas, tornavam-se belas por serem únicas e contraditórias.
Fixei meu olhar nas nuvens brancas, suas formas aguçavam minha curiosidade, nelas eu podia ver não apenas o que meu olhar permitia, mas tudo o que minha imaginação queria. E ela queria mais do que cabia no mundo imaginário. Por isso, pela janela transbordavam pipas, balões e elefantes murchos de tão apertados pelas janelas do mundo.
Quando percebi havia pulado da janela do meu apartamento. Não fosse por um hipopótamo de nuvem branca estaria agora espatifada no asfalta negro. Um hipopótamo de nuvem branca voador que voava cada vez mais alto. Roubei um pedaço de seu imenso dorso e enfiei na boca, cuspi, eca! Não tinha gosto de algodão doce, nem de jujubas azuis como meu eu infantil imaginava. Tinha gosto de lágrima, um pouco salgado, talvez amargo, mas nem de longe doce.


Monique Burigo Marin

2 comentários on "Janelas do Mundo"

wiliam jk on 20 de junho de 2010 às 17:43 disse...

Incrível como uma postagem tão antiga consegue se manter atual. Doce num tom quase infantil que consegue esconder a maturidade das escolhas de palavras. Acho que é a melhor definição do seu processo criativo, no início, tudo que se tem é uma folha em branco.

Fernando Castro on 2 de janeiro de 2011 às 20:04 disse...

Agora eu entendo o nome do seu blog... rsrs
Traz umas jujubas pra viagem, que ainda temos 363 dias pela frente!

até...^^
fer.

 

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