Tu estás vivo em mim e tens juventude eterna. Não que eu não goste das rugas marcando tuas mãos habilidosas, é só que não te vejo preso nos limites do tempo. É que te quero livre e por perto. É que tenho medo de me empolgar demais e ler todas as páginas de uma só vez.
Imagino teu riso modesto e teus olhos bondosos. Teu corpo coberto por roupas sutilmente amassadas, do tempo em que era moda usar a calça na altura do umbigo, por isso as tuas ficam onde bem entenderem. Mas, eu sei que o suspensório caído é displicência forjada, pois já te vi organizar até os cigarros. Nem você é perfeito.
Ainda não estou preparada para conhecer tua verdadeira forma. Prefiro rir da tua mania de não querer o que é necessário. E te escrever como quem escreve para si. E endireitar teus óculos tortos e mandar as vírgulas passearem junto com as colocações pronominais. Prefiro sentir tua presença amenizar o meu medo de fechar os olhos. Só mais cinco minutinhos.
Monique Burigo Marin