Ela está sempre se escondendo – pensou ele – atrás de
livros, no meio dos cabelos, embaixo do cobertor, dentro de si. Deve ser por
isso que ela despreza o verão. Até o sorriso, tão bonito e raro, ela esconde
com as mãos. Cobre os lábios, mas felizmente se esquece dos olhos. Os olhos
contêm o pedaço mais bonito do sorriso.
Quanto mais ela se esconde, tanto mais ele deseja encontrá-la,
mas sua especialidade sempre foi perder. Perdeu-se em pensamentos pensando nela
e o que ia dizer agora se escondeu também.
(aqui)
Alegra-se toda vez que revela um centímetro dela, assim por
acaso, quando ela se esquece do mundo. Seu corpo é um filme fotográfico
trancado em uma sala escura. Essas coisas levam tempo. E do tempo dependem. Não
abra a porta ainda.
Monique Burigo Marin