Talvez seja culpa do amarelo que ele veste, ou do jeito como ele (des)penteia os cabelos negros. Talvez seja culpa do sorriso que ele disfarça quando me vê. Ou talvez a culpa seja minha, e eu esteja sendo injusta.
Eu me lembro daquele dia, era primavera, havia um campo de margaridas. Também um ipê amarelo (embora eu goste mais dos roxos) que sustentava um balanço de corda velho, tão velho que é como se o tivessem colocado ali quando a árvore ainda era apenas uma mudinha, encantadoramente frágil.
Como se o balanço fosse uma miniatura que foi crescendo juntamente com os galhos até então finos e levemente tortuosos do ipê. Agora eles eram parte um do outro, eram um só. Encantadoramente sólidos. Assim como nós dois éramos rolando pelo campo de margaridas, ah sim! Elas foram esmagadas, estavam compactadas dentro de nós dois. Elas nem eram reais mesmo. Não havia nada dentro de nós para preencher o vazio, talvez ainda houvesse a avidez de quem quer muito por não ter nada e que as compactava para que pudesse caber um pouco mais, um pouco mais de quê? De nada. Eu estava sonhando acordada um sonho que não era meu, era nosso.
Mas afinal, de que são feitos os sonhos? Tenho certeza de que há muito amarelo nos meus.
Às vezes sinto vontade de morrer, e tudo porque tenho a esperança de poder vê-lo de algum lugar. Sentada nas nuvens, olhando para a Terra que parece tão pequena agora... Você estaria lá? Com flores de plástico, olhares murchos, suspiros melancólicos, cicatrizes nos lábios que não irão cicatrizar? Eu espero que não. Flores de plástico não morrem, mas jamais terão o mesmo encanto daquelas que tiveram a ousadia/sorte/missão de viver pelos outros, para enfeitar a vida dos outros, e quanto à vida delas?
Às vezes tenho vontade de morrer, mas só às vezes, logo passa, sinto-me idiota e quero viver. Mesmo que seja só para enfeitar a vida dos outros. E quanto a minha? Quem irá enfeitar?
Algumas vezes parece que os sonhos não bastam, e é preciso acordar, acordar para viver da realidade, que é mais amarga e dura, mais verdadeira e áspera, mas que no fundo é o que faz dos sonhos tão meus, tão seus, tão nossos.
Monique.