Trilha Sonora

por Monique Burigo Marin às 2:42 PM 0 comentários


Fecho os olhos e vejo o teu reflexo na janela do bar, balançando os cabelos e a guitarra, como quem se desprende do mundo. Teus olhos profundos se fecham com força, me abandonam do lado de cá. Eu me isolo dentro de mim para te escutar melhor. Tua voz se propaga aqui dentro feito o vento que assovia entre os prédios.
Estico os braços para te tocar, mas você é tão intangível para mim quanto a música é para o surdo. Sinto a tua vibração nos meus ossos e no meu coração, mas você não me sente. Eu te atravesso como um fantasma. A música acaba. Nossos olhos se abrem depressa, como se de repente nossos sonhos se transformassem no mesmo pesadelo.
Eu te olho com meus olhos de Raio X e enxergo teus órgãos forrados por partituras. A música toca dentro de ti e, quando permites, ressoa. Amplifica. Tua caixa torácica é o lar de um milhão de notas musicais que saem pela tua boca em escala e depois voltam a nascer dentro de ti. Tua anatomia é incomum e atraente. Tua pele deveria ser translúcida.
Tento ler a partitura que te reveste e me descubro analfabeta. Teus códigos são difíceis de decifrar e, por isso, ainda mais interessantes. Tua voz oscila dentro de mim feito asas de borboleta. 

Monique Burigo Marin

(In)concretismo

por Monique Burigo Marin às 11:06 AM 0 comentários

Abstrai-se do concreto.
Descasca as paredes, fura o teto.

No teto, um céu de goteiras goteja aquarela.
O balde transforma em suco de frutas.

Da arte ela bebe sem filtro.
Sem filtração, sem frustrações.







Alguém vem e
cobre tudo com cimento.


Monique Burigo Marin

Epifania no café da tarde

por Monique Burigo Marin às 2:59 PM 3 comentários
   Você me atrai como a rachadura no copo de vidro atrai meus lábios: acidentalmente. Não ligo se me cortar, minha sede é maior que meu medo.


Monique Burigo Marin
 

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