Ele x Ela

por Monique Burigo Marin às 12:28 AM 4 comentários


  Estou te escrevendo pra contar que tenho algo que você deseja. É sério, não ouse duvidar – nem pular para o final desta carta.
  Sabe, já tem um tempo que voltei a chamar o quadro vivo, aberto na minha parede, de janela. É que tem um tempo que a vida se foi. Tem um tempo que você se foi... Mas, o fato é que a janela estava escondida atrás da cortina há tanto, que eu já tinha me esquecido do vaso que você deixou nela. Das tuas flores, só me restou a lembrança olfativa.
  Acordei um dia com o sol entrando pelas frestas. Há muito tempo não havia frestas. Há muito tempo não havia sol. Então, notei uma saliência na cortina e, quando ela começou a se movimentar, tive certeza de que era um bicho. Não era. Tem um tempo que as minhas certezas são incertas. 
   Pare de bocejar! Eu sei que você está crente de que eu não mudei nada e que ainda sou a mesma pessoa que levava uma eternidade só pra dizer que – é, eu ainda sou, só que. Tenha paciência, vou direto ao ponto do jeito mais pontual que eu puder.
  Eu, que até hoje não encontrei meu nome, não sei mais como te chamar. Seu nome parece não fazer mais sentido. Suas pernas cresceram saudáveis, no vaso que por pouco eu não defenestrei. Desde quando eu descobri, estou cuidando delas como nunca cuidei de nada na vida. Nem de mim.
  Vem buscar e não se esquece de trazer o meu nome. Eu sei que ele está contigo, sempre esteve.


P.S: Ainda tem muito chão pra correr.

Monique Burigo Marin
 

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