Alô?

por Monique Burigo Marin às 11:34 AM 2 comentários

Imagem: Monique Burigo Marin
   Esta cidade é vazia sem vocês. Até minha casa ficou mais triste. Não há mais disputas para limpar a mesa, nem pelo último pedaço de pizza. Os lixeiros automáticos não me obedecem mais – por outro lado, o elevador ficou obediente. O sofá da sala ficou um tempo na sacada e depois se foi também.
   Sem vocês, esse mundo é mais imundo. Aqui, as borboletas não saem do casulo, assim como eu. Nos estacionamentos, só restou fumaça. As árvores e o mar se escondem no concreto. Aqui, não há mais piqueniques. A vizinhança está cada vez mais vazia – até a poesia abandonou as casas abandonas. Sinto falta da música, da música e do seu sorriso de ponto e vírgula, do seu sorriso e do meu sorriso que sorria para os seus. Sinto saudades do contraste que éramos juntos. Da nossa unidade.  
   Tem noites em que fico pensando na gente e a saudade derrama lágrimas pelo travesseiro, lágrimas que ainda estão molhadas pela manhã. A distância faz o tempo parecer mais longo. Faz o elo parecer mais frágil. Faz a lembrança parecer mais distante também, como se tudo tivesse acontecido numa outra vida.
   Eu estou ficando cada vez mais velha, e faz tempo que não dou uma de mãe, que não ligo assim que nos despedimos, só para me certificar de que tudo está bem – mesmo que não. Essa despedida parece não ter fim. Os telefones estão fora de área. 

Monique Burigo Marin

Obrigada

por Monique Burigo Marin às 8:49 PM 3 comentários
Imagem: Monique Burigo Marin

   Pensei em escrever sobre o teu jeito de desenhar sorrisos dentro de mim, nesses dias em que estou morta por causa dos tantos outros que se passaram. Pensei até em te contar, mas sei que te assustaria. E, de qualquer modo, meu silêncio contém pensamentos que não consigo decifrar, passeiam pelo teu caderno e por lá ficam, sorrindo sorrisos de desenho animado.
   Eu poderia escrever uma porção – e uma porção é o tamanho ideal para tudo, sabia? – de histórias para os teus personagens assimétricos, mas tenho medo de acabar distorcendo tudo. Eu queria saber descrever aquele olhar ensolarado que você soube desenhar, mas para alguém como eu, o sol chora gotas de chuva.
   Eu só queria, enfim, te agradecer por colorir com hidrocor esses dias secos e opacos, além de apagar as bigornas que ameaçam cair sobre mim. São inúteis, eu já não posso ser moldada – Estou pronta. E torta.


Monique Burigo Marin
 

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