SOBRE JUJUBAS E ELEFANTES MURCHOS

por Monique Burigo Marin às 12:20 PM 2 comentários

Texto e desenho retirados do blog Oitocentos Gritos Mudos, autoria do gritador Dan Arsky, cujas palavras povoam meus pensamentos constantemente. 



Uma colega de caneta, dessas que a gente não conhece pessoalmente, mas já leu uma verdadeira antologia de produções da pessoa, sempre soltava sua máxima: "Jujubas e Elefantes Murchos".
Ora, diabos, se estes elefantes estão murchos, por que não comem as jujubas?
Na verdade, eles comiam, mas as jujubas eram pedriscos e aqueles paquidermes eram daltônicos.

- Hey, Sr. Elefôncio! Estas jujubas são pedras, não está vendo?
- Para mim são jujubas, e muito saborosas!
- São pedras, sua besta! Veja!

Foi aí que o elefante murcho secou de vez. A epifania forçada lhe fez mal. A verdade doía como agulhas debaixo da unha.
Mas num dia de seca, olhou para as pedras e sorrindo as alcançou com a tromba.
O velho ranzinza, aquele epifanista magro e nojento, já gritou de longe:

- E falam da memória do elefante! Já te disse que são pedras! Pedras!
- Não são, são jujubas! - e seguiu comendo. E ainda de boca cheia complementou para o velho:
- Você que sempre viu errado.

E o velho colocou umas pedras na boca e mastigando, perdendo dentes disse:

- E não é que são jujubas mesmo!?

Clara.mente

por Monique Burigo Marin às 1:53 PM 3 comentários

Imagem: Kmye-chan 

  Amo teu lado obscuro de um jeito insensato. Quero conhecer o teu mundo do lado de dentro. Não temo tuas cordas ameaçando meu corpo. Há tempos fugi do teatro de marionetes.
  Não há por que vasculhar minha mente, meus olhos denunciam antes e mais claramente. Há uma porção de coisas sem explicação que vou varrendo para debaixo do meu próprio chão. O subterrâneo ficará pequeno para tanta falta.
 Despida de toda e qualquer armadura, entregue aos perigos do desconhecido, sozinha tentando tapar o sol com dedos pequenos. No final, quem morre sou eu.
  Enquanto isso, quero repousar no teu pensamento. Até entender esse medo de te perder para o passado, e de me perder entre as tuas lembranças até desaparecer.


Monique Burigo Marin

Mimetismo

por Monique Burigo Marin às 11:18 AM 4 comentários
Fotografia: MBM

  Tijolo é uma palavra feia. Estou rodeada delas neste lugar. Forram as paredes como ataduras. Firmes. Escondem a fragilidade do outro lado. Ninguém vê.
  Eu sou ninguém e me sento nesta cadeira que range a qualquer mínimo movimento. Tento brincar de estátua, fingir de morto, descansar os olhos. Aos quarenta anos ainda tento. Eu, que nunca consegui.
  Talvez eu deva abandonar os tijolos... Pois há dias sinto o coração solidificar, tentando a todo custo camuflar-se. Pulo a janela do segundo andar.
  As poças d’água são novos objetos de reflexão, literalmente falando. O rosto líquido e inexpressivo me encara sem entender. A poça vira onda e me engole. Inunda os cômodos. Desconstrói tudo que construí.

Monique Burigo Marin
 

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