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por Monique Burigo Marin às 10:58 PM 10 comentários
                                                                              Ilustração: Viet-My Bui 

Dia desses, vi teu sorriso sorrir pra mim olhando em outra direção.
Eu estou aqui.
Estou aqui.
Aqui.
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* Minha presença é tão ausência que em você sobrou apenas um ponto final.


Monique Burigo Marin

De tanto sentir.

por Monique Burigo Marin às 5:11 PM 7 comentários
                                                                                                                 Ilustração: Gure

 Quando eu morrer, desejo estar errada, abrir os olhos fora de mim e receber o abraço aconchegante de uma boa alma. Quero sentir a textura das nuvens sobre os pés, reencontrar pessoas queridas pelas quais meus olhos derramaram pesadas gotas de saudade. Dizer as coisas não ditas que pensei nunca mais poder dizer.
 E até nessa de acreditar em vidas passadas – e principalmente em futuras – eu entrei. Já não consigo explicar de outra maneira essa ligação tão dolorosamente permanente. Quando eu morrer, quero não querer voltar a um mundo sem água e sem amor nem por você.
 Quero morar em uma humilde casa, feita dos tijolos que ergui com minhas bondades terrenas. Não precisar trancar as portas e poder admirar, através da janela aberta, as estrelas que passeiam na rua. Acabar me apaixonando por algum desses seres notívagos ou por todos eles.
 Quero finalmente escutar ao vivo os ídolos que morreram antes de mim, ainda que isso soe irônico. Ainda que a minha nuvem seja a mais turbulenta e distante.
 Quando eu morrer, quero sentir nascer um par de asas furadas. Aprender a voar apesar de tudo. Aprender a cair apesar de tudo.
 Quero ser útil a alguém, fazer enxergar quem não pôde admirar as belezas de um mundo imperfeito.
 Quando eu morrer, não quero lágrimas. Quero só a dorzinha boa de quem, em algum momento, sorriu por mim. Quando eu morrer, digam que sinto muito e de tanto sentir meu coração parou.

Monique Burigo Marin


Acordada

por Monique Burigo Marin às 1:49 PM 5 comentários
                                                                     Ilustração: Candice Madsen
 Eu cresci enquanto você sumia. Ainda penso em você sem pensar...
 Será que deixou a barba crescer e fez trancinhas coloridas? Será que correu pelado na universidade e já casou com uma designer ou com uma jornalista ou... Por amor?  Talvez tenha um carro antigo na garagem e já tenha parado de desenhar tragédias em todo lugar.
 Será que ainda anda como quem se recupera de uma queda feia? Será que ainda fica feio de azul? Será, meu Deus, que ainda é ateu?
 Dia desses assisti aquele filme sobre você e eu, desejei que tivesse me presenteado com uma máquina de voltar no tempo também. Será que do jeito que o tempo passa rápida aquele pelo branco na sua sobrancelha já se multiplicou?
 Será que eu, algum dia, terei respostas para o enigma que é você?

Monique Burigo Marin

Um Pouco de Liberdade

por Monique Burigo Marin às 12:26 PM 1 comentários

Inanição

por Monique Burigo Marin às 7:26 PM 5 comentários
IlustraçãoGina Wetzel

Mas ainda dói pensar no teu sorriso, cujas fases eu conheço de cor, esperando ansiosamente por outro  alguém. Vestido branco. Nesse momento sei que escutarei a marcha fúnebre. Sei que vou chorar as lágrimas que segurei por todos esses anos. Sei que cada passo ao teu encontro será sentido no meu coração.
Essa morte lenta e dolorosa não será esquecida. Começou discreta, um leve incomodo no estômago. Imagens distorcidas. Evoluiu para uma bulimia nojenta e incurável. A verdade nua e crua é essa: O nosso amor morreu de inanição.
Eu queria poder te vomitar inteiro, mesmo, da cabeça aos pés. Para que não me sobre nenhum vestígio teu que te faça ressurgir como um câncer maligno.


Monique Burigo Marin
 

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