Elefantes

por Monique Burigo Marin às 7:45 PM 7 comentários
                                                                Imagem: Salvador Dalí
Às vezes apertam o nó em volta do pescoço forte demais. Sufoco, agonizo, não consigo gritar: é horrível. Nesses momentos, só os elefantes conseguem entender. Eles estendem suas trombas como símbolo de compaixão. Eu nada faço. Nada posso. Nada sou.
Há mais um deles no bando, quase invisível por detrás das enormes patas protetoras. Estou triste, é um novo escravo das dores que não suporto só.
Quando desperto, eles murcham tanto quanto eu. Preciso libertá-los, mas viver sonhando não é permitido e, só assim posso vê-los sujar os corpos de lama medicinal e jogar jogos da memória ao redor do toco de madeira de uma árvore centenária, acidentalmente sacrificada por um raio bêbado. Não se fazem mais tempestades como antigamente.
Só esses elefantes podem pular. Construí uma cama elástica do tamanho da minha casa, só para eles. Não arrisco meus pulos, sei que não vale a pena. Se ao menos a dor fosse sempre tão fácil de diagnosticar...

Monique Burigo Marin

Formiga

por Monique Burigo Marin às 11:52 PM 4 comentários
Devolvam a minha inocência porque já não suporto saber que alguns sonhos são irrealizáveis. E já não suporto esse ceticismo e essa armadura que eu vesti. Pesa muito, estou cansada. Queria ser formiga, carregar nas costas um mundo de soluções, mas estou presa à minha natureza humana: tão frágil.

Monique Burigo Marin

Culpada

por Monique Burigo Marin às 1:37 PM 6 comentários
                                                                 Imagem: Esao Andrews
Eu corria pela rua e no meio dessa corrida percebi que corria ao seu encontro.
Estou tão agitada e angustiada. Já bebi dois copos de suco de maracujá, e nada. Quando o corpo cai na cama, ligo a TV no canal do polishop. Ouvir a consciência é muito pior.
Se busco inspiração em qualquer olhar, em qualquer riso, em qualquer coração partido. Que culpa tenho eu?

Monique Burigo Marin

Fantasias Tamanho GG

por Monique Burigo Marin às 9:19 PM 7 comentários
                                                                   Imagem: Eu, no carnaval.

No carnaval,quando eu era criança, gostavam de me fantasiar de palhaça. Pintavam no meu rosto olhares estelares, bochechas rosadas e um sorriso. A roupa que eu vestia pinicava, era uma mistura de vermelho, branco, amarelo e verde. Muito brilho, muita cor, muita graça.
Eu tinha duas mãozinhas assassinas que faziam pequenos furos na roupa, misturavam a maquiagem em meu rosto e me faziam parecer o Curinga do Batman, após ter derretido em um dia de sol.
Ao chegar no local em que seria a celebração, os adultos diziam que eu estava uma gracinha e apertavam minhas bochechas, as crianças riam de mim – e não é para isso que servem os palhaços? – e o som do meu riso se misturava ao som do riso delas. Eu era feliz e não sabia. Agora, eu sei.
A música tocava e o batuque fazia nossos corações vibrarem como um só.
Minha melhor amiga era uma melancia, meu irmão um índio canibal, e eu uma palhaça desfigurada de uma piada só. Mas, todos falávamos a mesma língua e éramos iguais em nossa essência.
No fim da festa confetes e serpentinas caíam feito neve sobre nós, era chegada a hora de dizer adeus e então dizer olá para a alegria infindável. A vida era o melhor dos carnavais.
Hoje, meus sapatos de palhaça apertaram os dedos dos pés, e todas as fantasias estão pequenas demais para mim. 

* Escrito em 2008, para a aula de redação.
* Agora também escrevo aqui, onde deixei outro ponto de vista sobre o carnaval. Todos serão muito bem vindos!

Monique Burigo Marin

Superfície

por Monique Burigo Marin às 6:19 PM 6 comentários
Imagem: Brian M Viveros
Nunca estive tão à flor da pele. Um cisco no olho é uma manada de elefantes. Se bebo não paro até que o bar feche. Fui cortar os cabelos e voltei careca.
Ao tentar correr atrás de mim acabo fugindo. E se paro apenas alguns instantes para descansar, as cadeiras vazias ao meu redor ganham vida e sobem pelas paredes.
Estranhos vêm e vão tão apressados quanto eu, mal vejo seus rostos ainda marcados pelo travesseiro. A noite foi difícil, a manhã será pior.
Somos sonâmbulos ludibriados pelo realismo dos nossos sonhos. Quando acordarmos, se é que um dia acordaremos, essas lembranças não serão mais do que fragmentos perdidos.

* Amanda, por favor, controle seus instintos. Pare de tentar desmascarar as mentiras, não há rosto por detrás dessas máscaras.

Monique Burigo Marin
 

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