Por um natal mais festivo

por Monique Burigo Marin às 3:19 PM 8 comentários
Ilustração: Diniece
Barbudo,

Sei que já passei da idade de escrever cartas pro senhor, sei que puxei a barba dos teus assistentes e não acreditei em ti. Mas hoje, eu fecho os olhos e torço tanto, tanto, para que a magia do natal não se perca.
Sabe, Noel, eu sei que existe uma porção de crianças que foram boas a vida inteira e ficarão sem presente neste natal. Como posso, então, acreditar na tua existência?
Há relatos de que fizeste milagres, não acredito, para mim, a tua simples existência já seria por si só um milagre. Um milagre lindo e aconchegante que traria esperança ao mundo.
Então eu ignoro o meu ceticismo e não quero nem saber se foste inventado pela Coca-Cola ou se és mero símbolo do cristianismo. Não quero saber.  Eu tento acreditar, porque preciso, que o bom velhinho está em algum lugar lendo esta carta enquanto os duendes empacotam os presentes.
Se eu fosse você, Barbudo, deixaria doces embaixo do meu pinheiro – pode ser até um sonho, ou dois – junto com a máquina de fazer nuvens de algodão. E não me esqueceria das crianças sem endereço, pois são as que mais precisam daquele embrulho mágico que guarda os sonhos realizados. E faria isso sem demora, antes que o teu trenó movido à esperança pare de funcionar.

                                                                                       Isso É uma ameaça,

                                                                                                                     Boa Menina


*E para você que está cansado de esperar por um milagre: Doe, doe-se.

Monique Burigo Marin

Cadê?

por Monique Burigo Marin às 9:36 PM 8 comentários
As indecisões das cores do teu cabelo acompanhavam o teu humor, que também era meu. Contigo, eu fui tão bem humorada! Foi a tua mão que segurou a minha quando fiquei sozinha sem querer estar.
...Tenho uma notícia triste: Eu não consigo mais te imaginar. Quando tento, dói. Mas me recuso a te esquecer.
O que foi que aconteceu com a gente? Éramos tão completos e indivisíveis. Fomos teoria atômica hoje ultrapassada. Mas que fazer da saudade que, ao contrário, não passa?
Será que adquiri uma cegueira específica? É,talvez seja isso. Como na cegueira dos que já enxergaram: o tempo foi se encarregando de apagar os traços daqueles que sumiram, fazendo esquecer, mesmo sem querer.
Nig é Ninguém, afinal. Não preciso mais abreviar teu nome para que não te ofendas.



* Sabe, Nig (não preciso, mas insisto). Eu sinto saudades. Tua existência ainda vive em mim, em cada sorriso teimoso. Não me abandone.


Monique Burigo Marin

Você conhece a desconhecida.

por Monique Burigo Marin às 8:39 PM 7 comentários
IlustraçãoAdam Pitschke
Não posso dizer mais nada, fui descoberta, é meu fim. Sabia que essa coisa de ter cabelos curtos nunca daria certo. Eu preciso de uma cortina que esconda a transparência das minhas janelas.
Eu preciso, preciso muito, dessa sua compreensão silenciosa. Porque quando me consumo, acabo. Desapareço. Eu que já sou tão invisível...

*Você pode me ver?

Monique Burigo Marin

Antes de Isabel

por Monique Burigo Marin às 5:30 PM 13 comentários

E então ele fez o que achava que qualquer pessoa procurando o amor faria. Saiu de casa, pela primeira vez em meses, só para começar. E lá se foi, solitário e otimista, pelas ruas da cidade em direção ao lugar que as pessoas que procuram o amor vão.
Já cansado de andar em ziguezague o dia inteiro, admitiu que não sabia aonde queria chegar. Talvez não quisesse chegar a lugar algum, afinal. Talvez o jeito fosse esperar sentado. Talvez  fosse demasiadamente tarde.
Ele ia morrer balançando em uma cadeira de balanço na varanda de casa com um livro aberto nas mãos.


Monique Burigo Marin

D

por Monique Burigo Marin às 8:01 PM 11 comentários
Ilustração: Bruno Del Rey

Queria que seu nome não fosse um nome comum. Procurei por ele e também o encontrei em toda parte. Mas, nenhum deles é autor dessas palavras que sempre mudam o ritmo da minha respiração. Queria que você soubesse. Queria poder dizer-te. Se ao menos seu nome me levasse até você...
Mas estás tão longe, e tão perto. Perdoe-me a pieguice e a falta de criatividade. Mas quando perco as suas pistas o ritmo quase cessa, sobrevivo em estado latente de felicidade.
É que suas palavras acendem as velas da minha sala escura. Aclaram os pensamentos mais obscuros e ocultos das minhas infinitas prateleiras. Aspiram o pó que acumulou sobre as sensações. Se ao menos você soubesse...
Esse sentimento é mágico e instantâneo. E mais gostoso que Miojo.

Monique Burigo Marin

Irreversível

por Monique Burigo Marin às 5:56 PM 10 comentários
Às vezes me pergunto se também irei, um dia, separar na foto os nossos corpos. Ou se farei uma fogueira com as lembranças de nós dois. 
Suspeito que depois eu tentaria, em desespero, concertar com fita adesiva até aquilo que não tem mais jeito.


Monique Burigo Marin
 

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