A Moça e a Poça

por Monique Burigo Marin às 11:45 AM 4 comentários

Há nessa mistura de cores dos teus olhos uma poça de maré onde gosto de brincar. Esse habitat é tão seguro! Dispenso guelras, escamas, cilindro e escafandro. A correnteza não me afeta. Aceita-me do jeito que sou. Nadando cachorrinho ou com bóias de golfinho.
Essa poça que ilumina o teu rosto muda de cor de acordo com o que está sendo refletido. E pode ter as cores mais coloridas, dignas de sonhos infantis. Mas também pode ser profunda e fria e dura e escura como o céu antes da chuva. Intransponível.
Não analise com olhos clínicos essas minhas palavras. Eu não sei escrever artigos científicos. E o que sei só pode ser compreendido com a imaginação. Sei também que você lembra-se de todos os medos que inventei só para dormir segura nas tuas mãos.
A tua presença é calmaria. É som de ondas quebrando no mar. É brisa secando as lágrimas teimosas.
Nessas minhas brincadeiras, tomo cuidado. Só toco com o coração, pois as mãos também ferem e sufocam. As tuas águas são perenes como o meu amor por ti. E todo o carinho que eu possa oferecer ainda será pouco.

Feliz aniversário, minha irmã.

Monique Burigo Marin

Anônimo

por Monique Burigo Marin às 6:17 PM 8 comentários


                                                                      Ilustração: Vasylissa
Se já não importa, já não entendo por que senti as mãos formigarem e o nó apertar quando li teu nome. A cada nova palavra, a pergunta muda perguntando para onde foram os rabiscos e as dobras e as manchas de Toddy. Os teus livros não têm cara de lidos! Isso apagou um dos teus traços mais bonitos.
Fiz de ti meu personagem predileto e agora te tornas realidade. Nunca me pertenceu. Foge deixando minhas páginas em branco.
A verdade é que eu li tua mão e tuas cicatrizes e tuas reticências tantas vezes que te envelheci. Aumentei a nitidez das tuas rugas invisíveis.
Espero que um dia você me perdoe, espero quase desesperançada que um dia eu me perdoe por não conseguir me livrar desse sentimento tão sem nome e sem razão.

Monique Burigo Marin

Primavera

por Monique Burigo Marin às 11:46 AM 7 comentários
A primavera me entristece. Coisa estranha de se dizer. O despertar é também o morrer.
A flor seca no vaso floresce. Tem pressa de viver. Não sabe que é fugaz o seu dever.

A primavera me expulsa para fora de mim. Confidencia ao mundo meu segredo mais secreto: Não estou pronta. Perdi os espinhos tentando prolongar o inverno.

Monique Burigo Marin

Ilustração: Vasylissa

 

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