Amanda não manda

por Monique Burigo Marin às 10:33 PM 6 comentários


                                                                    Ilustração: Cybergranny
Amanda gosta de andar por becos escuros em noites frias. Solidão e silêncio são tudo o que precisa. Engana-se.
O medo é fiel companhia. Acompanha os passos firmes do coturno trinta e sete. Só ele acelera os batimentos. Só ele. Engana-se.
Sacode os pés tentando afastar a própria sombra. Não pode ser livre desse jeito. Não enquanto estiver presa a esse borrão moldável e indeciso. Essa mancha instável e inconstante que denuncia sua chegada e acompanha sua partida. Ímpio defeito de fabricação.
Tudo o que vê parece sujo. O cheiro dos bueiros impregnando as roupas, entrando pelos poros, contaminando a alma. Escuta: o som da violência fere os tímpanos. Moedas no chapéu para quem ousar tentar povoar o mundo com música. Tapinha no ombro vem de brinde. Abraço sincero para quem arrancar, permanentemente, esse gosto amargo, e podre, e mofo de quem nunca provou a doçura da vida.
Amanda é pura sinestesia, e não manda, nem nos próprios sentidos.

Monique Burigo Marin
 

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